quarta-feira, 25 de maio de 2016

Por que a adaptação de A Torre Negra pode ser uma ideia mais complexa do que pensávamos


AVISO: O TEXTO A SEGUIR CONTÉM SPOILERS FORTES DOS LIVROS DA TORRE NEGRA.

“O Roland interpretado por um negro?”; “E a Susannah, como fica?”; “Personagens que só dão as caras nos últimos livros já vão aparecer no primeiro filme?”. “Pra quê tantas mudanças?”.

As perguntas irritadas dos fãs são muitas, e todas válidas. A Torre Negra, como sabem, é a maior obra escrita por Stephen King e talvez a mais importante também. Por isso, adaptá-la, até pela complexidade de sua trama, não é tarefa fácil. A obra consiste – até agora – em oito livros e uma noveleta, e depois de traumas como “O Apanhador de Sonhos”, “A Criatura do Cemitério” e “Mangler: O Grito do Terror”, nada mais natural do que o receio dos Leitores Constantes de que a jornada de Roland nos cinemas sofra com a incompetência dos envolvidos e acabe sendo um desastre como tantas outras adaptações.

E com A Torre Negra não se brinca; estragar a história de Roland é um pecado digno de ser condenado ao inferno e apenas Stephen King tem o direito de fazê-lo (essa é para quem não gostou do final da história).

O que sabemos até agora sobre a adaptação é que, apesar dela começar como no primeiro volume, O Pistoleiro, com a interpretação da famosa frase “O Homem de Preto fugia pelo deserto e o Pistoleiro ia atrás”, o roteiro não começará no início da jornada literária de Roland. Stephen King confirmou que a narração do filme será feita “in media res”, ou seja, começará (mais ou menos) na metade da história.

Elementos como a contratação de Jackie Earle Haley (Watchmen; A Hora do Pesadelo) para viver o vampiro Richard Sayre (cuja primeira aparição é somente emLobos de Calla) e Abbey Lee (Mad Max: Estrada da Fúria) para interpretar Tirana (a personagem só aparece em uma página do último livro) vêm confundindo os fãs e os fazendo questionar o quanto será mudado na adaptação. Obviamente isto irrita boa parte dos puristas que querem que a tradução do livro para o filme seja a mais fiel possível. Boatos de que Katheryn Winnick – uma linda atriz loira dos olhos azuis – interpretará Susannah também não tem ajudado.

Mas eis que no último 19 de maio Stephen King solta uma imagem curiosa no twitter. Aparentemente, trata-se do primeiro teaser do filme.

Os fãs, claro, entenderam se tratar do Chifre de Eld. O artefato, originalmente de Arthur Eld, costumava ser utilizado pelos pistoleiros de Gilead durante batalhas dramáticas para inspirar coragem. E foi em uma batalha dramática que Roland a viu pela última vez. Durante o que ficou conhecido como A Batalha da Colina de Jericó/Jericho Hill contra as forças de Farson, o Chifre foi tocado por Cuthbert Allgood até seu último suspiro. Antes de morrer pela ferida de uma flecha no olho lançada por Flagg/Walter, Cuthbert pede a um jovem Roland que leve consigo o Chifre de Eld, ao que o Pistoleiro recusa, deixando o Chifre para trás.

Esta passagem é importante porque no fim da história, como os leitores sabem, Roland falha em sua missão, apesar de adentrar a Torre Negra, sendo obrigado pela mesma a voltar no tempo (o Ka é uma roda!) e recomeçar sua jornada de novo e de novo até que ele aprenda a ser um homem diferente – daquele que sacrificaria um aliado sem pestanejar para atingir seu objetivo – e melhor. É subentendido que Roland vem repetindo sua jornada por várias vezes, e a cada vez que ela chega ao fim, seu cerne humano vai mudando aos poucos graças ao laço que ele forma com Eddie, Susannah, Jake e Oi. Ao final do sétimo livro, contudo, um detalhe aponta ao leitor um sinal otimista de que Roland finalmente está perto de ter sucesso em sua jornada, e que desta vez A Torre Negra vai permitir sua vitória: o Chifre de Eld está em sua posse quando Roland retorna ao deserto de Mohaine – sem memórias de suas aventuras passadas – enquanto persegue o Homem de Preto… de novo. O fato de que Roland desta vez pegou o Chifre das mãos de Cuthbert ao invés de abandoná-lo em Jericó significa uma mudança de caráter e que, se Roland não tiver sucesso da próxima vez com a Torre Negra, pelo menos está cada vez mais próximo disso e que a Torre vai corrigi-lo até que ele seja merecedor de conquistá-la.

E por que isso é importante na adaptação do diretor Nikolaj Arcel? Porque a imagem publicada por King – bem como a legenda, “Last Time Around”, que se traduz literalmente para “Última Vez Aqui”, no sentido de que esta será a última vez que ele (o Chifre) será usado – sugere que a adaptação de A Torre Negra pode não ser exatamente o que estávamos pensando. De fato, parece ser uma tacada de gênio para justificar tantas mudanças.

Talvez, TALVEZ, o filme d’A Torre Negra seja nada mais do que uma CONTINUAÇÃO dos livros de King, que se inicia na volta do Ka onde Roland possui o Chifre de Eld (não haveria sentido em publicar a imagem do Chifre se ele nunca será usado no filme).SE a adaptação começará com Roland na posse do Chifre de Eld, todas as regras mudam. É como o famigerado “Efeito Borboleta”, onde uma ação – neste caso, Roland atender o pedido de Cuthbert e levar o Chifre consigo – tem consequências que mudam completamente o curso do Ka. Deste modo, introduzir personagens e fatos que só aparecem nas últimas etapas da história literária, cortar outros, adicionar novos e mudar mais alguns fariam muito sentido. Talvez a atriz que fará Susannah não tenha sido contratada ainda porque simplesmente nesta roda do Ka, Roland não trará Odetta/Detta de Nova York. Ao invés disso, talvez ele traga Raimunda Celestina da Bahia e ela seja uma loirinha linda de olhos azuis… Quem pode dizer? As possibilidades de mudanças são infinitas, e se esta teoria estiver certa, qualquer uma que seja feita é plenamente justificável. Tacada de gênio, lembra?

Fato é que isso não justifica a mudança de caracterização para um Roland negro. Roland sempre foi branco de olhos azuis mesmo antes de decidir abandonar ou pegar o Chifre de Eld na Colina de Jericó. Mas em face a esta possibilidade de mudanças radicais por causa do Chifre de Eld, seria realmente relevante a cor de pele do personagem? Seria relevante adaptar tim-tim por tim-tim de cada livro se desta vez a história de Roland pode ser diferente da que King escreveu originalmente?

É claro que este artigo foi escrito baseado nesta teoria – já bastante debatida entre fãs nos últimos dias – do Chifre de Eld, e que tudo o que você leu até agora pode, no fim das contas, significar absolutamente nada. Apenas o tempo dirá o verdadeiro plano de Nikolaj Arcel, Stephen King, do produtor Ron Howard e do roteirista Akiva Goldsman. Seja como for, esta seria uma maneira de, pelo menos, apaziguar a ira de parte dos fãs ao fazê-los compreender que esta adaptação, na verdade, é uma sequência dos livros que mostrará Roland Deschain em sua jornada definitiva para atingir o topo d’A Torre Negra.

Fonte: King Of Maine por Boni

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