A “apenas” quatro anos luz de distância – praticamente “em nossa vizinhança”, em termos astronômicos – há um planeta que pode abrigar vida.
ESO / M Kornmesser
Impressão artística da vista na superfície do Proxima b.
Um planeta que possui aproximadamente o mesmo tamanho da Terra e que talvez tenha água – podendo, teoricamente, abrigar vida – foi encontrado perto de nossa estrela mais próxima.
O pequeno e rochoso planeta orbita a estrela Proxima Centauri e está localizado a apenas 4,2 anos luz de distância de nós. O seu tamanho é de cerca de 1,3 vez o tamanho da Terra. O planeta recém-descoberto está a uma distância ideal de sua estrela para possuir água líquida – nem tão longe para que ela acabe congelada e nem tão perto para que ela entre em ebulição.
Uma revista alemã publicou rumores sobre a descoberta do planeta na semana passada, mas a notícia só se propagou depois de um artigo na "Nature". Os autores da pesquisa disseram ao BuzzFeed News que eles entraram em contato com uma equipe, liderada pelo professor Stephen Hawking, que agora cogita enviar uma missão a Proxima Centauri.
ESO / M Kornmesser
Impressão artística do Proxima b com a Proxima Centauri em segundo plano.
Lewis Dartnell, pesquisador de astrobiologia na Universidade de Westminster que não está envolvido com a pesquisa, contou ao BuzzFeed News que a descoberta é "empolgante" e que "poderá conduzir a uma nova fase de missões de exploração de planetas", possivelmente incluindo o envio de robôs. No entanto, ele disse que ainda há razões para manter a cautela sobre a hipótese de que o "Proxima b", como o planeta é conhecido, seja adequado à vida.
A Proxima Centauri é uma estrela anã vermelha, ou seja, é muito menor, mais velha e mais fria do que o nosso Sol. Da Terra, ela não é visível a olho nu.
Cientistas da Universidade Queen Mary de Londres detectaram, utilizando poderosos telescópios, que a Proxima Centauri aparentava "oscilar" um pouco. Quando uma estrela oscila regularmente, isso geralmente significa que há um planeta em sua órbita, deslocando-a com sua gravidade.
Os cientistas conseguiram detectar isso porque a luz da estrela muda sutilmente de cor quando se aproxima e se afasta da Terra. O movimento é minúsculo – a Proxima Centauri se afasta a uma velocidade de 5 km por hora e se aproxima na mesma velocidade. Mas foi o bastante para que fosse detectado.
Como o Proxima b desloca sua estrela. Quando ele está mais próximo da Terra, a luz da estrela tem uma aparência mais azulada para nós. Quando está se afastando, sua aparência é mais avermelhada.
A Proxima Centauri vinha sendo estudada desde 2000, quando foram detectados indícios de um planeta nos seus arredores. Contudo, a confirmação da existência do planeta foi complicada. "É uma estrela muito ativa, uma estrela eruptiva", contou Richard Nelson, professor de astronomia da Universidade Queen Mary que trabalhou na pesquisa, ao BuzzFeed News. "Isso é comum nessas estrelas pequenas, de pouca massa."
As erupções solares emitem grandes quantidades de gases no Espaço e deslocam levemente as estrelas. Isso faz com que seja muito mais difícil detectar o sinal normal de um planeta em órbita em meio ao movimento causado por erupção solar.
Entre janeiro e março deste ano, a equipe da Universidade Queen Mary utilizou dois grandes telescópios no Observatório Europeu do Sul, no Chile, para estudar a Proxima Centauri durante 60 dias.
O Proxima b leva 11 dias para orbitar sua estrela, então eles conseguiram observar diversas órbitas. "As estatísticas pareciam muito boas", disse Dartnell. "Os dados não eram muito claros, mas eles conseguiram pegar o sinal e demonstrar a existência de um planeta em órbita."
Por causa de sua órbita tão rápida, os pesquisadores sabem que o Proxima b está muito perto da estrela – a apenas um vinte avos da distância da Terra até o Sol. A temperatura pode ser a ideal para a existência de água líquida, já que a estrela é muito fria. Tamanha proximidade, no entanto, pode ter outras implicações.
ESA / Hubble / Via en.wikipedia.org
Proxima Centauri, vista pelo telescópio Hubble.
Primeiro, a estrela é muito ativa, lançando erupções solares regularmente – e, consequentemente, radiação – no Espaço.
"O Proxima b recebe de 10 a 100 vezes mais radiação raios-X e ultravioleta do que a Terra", afirmou Nelson. "Isso pode ter um impacto sobre a atmosfera e os oceanos, caso eles existam. Caso não existam grandes quantidades de água, é possível que ela tenha evaporado."
Segundo, quando um planeta está muito perto de uma estrela, pode ter uma "rotação sincronizada", tendo um de seus hemisférios sempre voltado para a estrela – do mesmo modo como vemos apenas uma face da Lua. "O problema com um planeta em rotação síncrona é que você teria um hemisfério em dia perpétuo e outro em noite eterna", disse Dartnell.
Isso faz com que haja uma acentuada diferença na temperatura entre os dois hemisférios. Dependendo da densidade da atmosfera, há a possibilidade do vento distribuir o calor, mas, caso a atmosfera seja menos espessa, o seu lado escuro pode ser frio o bastante para congelar o dióxido de carbono, disse Dartnell. "Há muitos debates sobre a possibilidade da existência de vida em planetas com rotação sincronizada", afirmou.
Y Beletsky (LCO) / ESO / ESA
O Observatório Europeu do Sul no Chile, que avistou o exoplaneta.
Ainda assim, há chances de que o Proxima b seja capaz de abrigar vida. "Sem nenhuma dúvida, dos planetas que conhecemos, é o que parece ser mais habitável em nossa vizinhança", disse Nelson. "Já observamos muitos planetas rochosos, mas, na maioria das vezes, eles estão muito distantes. Em termos astronômicos, o Proxima b está incrivelmente próximo."
O próximo passo, diz o professor, é observar o planeta do telescópio espacial Spitzer. Caso o planeta passe na frente da Proxima Centauri, será possível verificar seu tamanho e sua densidade exatos. Com outro telescópio, o James Webb, que será lançado em 2018, também será possível verificar a atmosfera do Proxima b, utilizando uma técnica chamada de espectroscopia.
"Se conseguirmos ter evidências da presença de oxigênio e metano, será animador", disse Dartnell, "pois a única maneira conhecida de liberação de oxigênio em grandes quantidades é pela fotossíntese. Assim, saberíamos que não apenas há um planeta parecido com a Terra, mas também há chances de haver vida lá".
Há também a possibilidade de, em breve, enviarmos robôs para o planeta. Em abril, Hawking e Yuri Milner, um bilionário russo, anunciaram um projeto chamado Breakthrough Starshot, cujo objetivo é enviar milhares de minúsculas sondas espaciais, todas com uma fina vela solar.
As velas seriam impulsionadas por um laser disparado da Terra e acelerariam lentamente até atingir cerca de 20% da velocidade da luz. Com isso, uma espaçonave poderia chegar à Proxima Centauri em cerca de 20 anos – em comparação, nossos foguetes químicos mais rápidos levariam cerca de 80 mil anos para completar o trajeto.
Digitized Sky Survey
O sistema estelar Alfa Centauri (a luz brilhante no canto superior esquerdo) com a estrela anã vermelha Proxima Centauri, mais opaca, próxima a ele.
Hawking e Milner planejavam mirar o lançamento em Alfa Centauri, um sistema de estrelas muito próximo da Proxima Centauri. Contudo, Nelson acredita que a descoberta do Proxima b possa fazer eles mudarem de opinião. "Já houve um contato entre nós e a equipe do projeto Breakthrough Starshot", disse. "Acho que eles estão muito interessados em mudar o seu alvo."
As velas solares "são o tipo de tecnologia que nós compreendemos hoje", afirmou Dartnell. "Não é apenas ficção científica maluca como as dobras espaciais. É algo cujo lançamento é possível em algumas décadas."
Nelson concorda: "Certamente nossa geração não verá a espaçonave chegar lá. Mas podemos ver o início da sua engenharia – talvez até mesmo o seu lançamento."
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Entre na discussão,comente aqui!